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Aplicativos de sexo e desinformação aumentam vulnerabilidade ao HIV

Em grande parte dos casos, sexo com parceiros encontrados por meio de aplicativos é ocasional, imediato, muitas vezes desprotegido e associado ao uso de drogas.

Estudo feito pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP revela que homens que utilizam aplicativos de encontros para sexo ocasional com outros homens – e não se protegem – estão mais vulneráveis a se expor ao vírus HIV.  Além do comportamento aumentar a exposição a esse vírus, o estudo mostra que muitos desconhecem métodos preventivos quando o preservativo masculino não está presente. Estes novos métodos incluem a Profilaxia Pré-Exposição (PREP), a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e a testagem.

O objetivo da pesquisa do enfermeiro Artur Acelino Francisco Luz Nunes Queiroz foi avaliar as vulnerabilidades e experiências dos homens que utilizam esse método de encontro à infecção pelo HIV, sendo eles gays, bissexuais, pansexuais ou heterossexuais. Os resultados mostraram que o sexo com parceiros encontrados por meio de aplicativos é ocasional, imediato, muitas vezes desprotegido e associado ao uso de drogas. No entanto, o que chamou mais a atenção foi a falta de informações sobre o status de HIV desses parceiros, mesmo o aplicativo fornecendo informações sobre a necessidade de proteção.

 

Artur Acelino Francisco Luz Nunes Queiroz – Foto: Arquivo pessoal

 

Segundo Queiroz, os homens que se relacionam sexualmente com outros homens estão mais sujeitos a exposição ao vírus pelo fato que o sexo anal é o que mais transmite HIV, em comparação ao oral e vaginal. “Em uma última pesquisa feita pela revista Medicine em parceria com o Ministério da Saúde, um a cada quatro homens que fazem sexo com homens (HSH) vivem com HIV/aids”.

Nas análises do estudo do enfermeiro, os dados mostram que as vulnerabilidades existentes para os usuários são principalmente individuais, como o sexo anal desprotegido; sociais, como a homofobia e programáticas/estruturais, como a falta de preparo do serviço de saúde para atender pessoas lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT). De acordo com o pesquisador, estudos internacionais apontam que a infecção cresce desproporcionalmente entre esses homens em relação à população em geral. “Por exemplo, em 2015, em todo o mundo 12% das novas infecções por HIV foram de homens que se relacionam com homens. Esse grupo compõe 54% das novas infecções pelo HIV na Europa Ocidental; Na América do Norte 68% e na América Latina e Caribe 30%.”

Como as políticas públicas existentes são voltadas ao público heterossexual, diz Queiroz, as outras sexualidades acabam marginalizadas. “Desta maneira a população LGBT tenta se adaptar às prevenções destinadas aos heterossexuais. A homofobia ainda impede muito o acesso da população LGBT a formas de prevenção, serviços de saúde e ao conhecimento”. A informação fragilizada, diz  Queiroz, e o uso dos aplicativos como forma de obtenção dos parceiros, é reflexo de uma homofobia estrutural que impede esse grupo de formar parcerias com a mesma facilidade e liberdade que heterossexuais. “A sexualidade da população LGBT tem que ser escondida, presa a um aplicativo”, afirma.

O pesquisador lembra que o método mais comum para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é com o uso de preservativo, sem isso, a pessoa fica vulnerável. “Por isso novas formas de prevenção devem ser divulgadas, como a Profilaxia Pré-Exposição (PREP), a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e a testagem” (leia definição abaixo).

A pesquisa foi realizada em duas etapas. A primeira foi a revisão de mais de 800 trabalhos na busca de fatores de vulnerabilidades. Essa revisão foi publicada no Journal of the Association of Nurses in AIDS Care (JANAC) em 2017. Na segunda fase foram entrevistados cerca de 30 usuários do aplicativo Hornet, que além de favorecer o estabelecimento de novos relacionamentos é pioneiro em oferecer informações aos usuários na questão de prevenção e questões de saúde sexual. Os entrevistados são Ribeirão Preto, São Paulo, e Teresina, no Piauí.

Estes resultados são do mestrado HIV vulnerability of men who have sex with men users of geossocial dating applications, defendido por Queiroz no ano passado,  com orientação da professora Renata Karina Reis da EERP. O estudo compõe ainda o macro-projeto Comportamentos, práticas e vulnerabilidades de homens que fazem sexo com homens usuários de aplicativos geossociais para encontros que envolve a EERP e as Universidades Federais do Piauí (UFPI) e Fluminense (UFF), que desde 2017 investigam mais de 2 mil HSH em todo o Brasil, com manuscritos submetidos em outros periódicos nacionais e internacionais

Sexo seguro

A maneira mais conhecida e usual de prevenção é com o uso de preservativo, mas existem outras formas de se proteger, como a Profilaxia Pré-Exposição (PREP), Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e a testagem.

A PREP é a combinação de medicamentos utilizados no tratamento do HIV, ingeridos diariamente para evitar a infecção pelo vírus. Essa forma de prevenção está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A PEP é preventiva, a medicação é ingerida em até 72 horas após a relação de risco, como o sexo desprotegido, por exemplo. Já a testagem são exames oferecidos gratuitamente pelo SUS, que podem ser utilizados para o diagnóstico do HIV, sífilis e hepatites B e C. “Quando se faz a testagem, podemos saber qual o status sorológico (positivo ou negativo) e assim escolher a melhor forma de prevenção”, explica Queiroz.

 Referência: Jornal da USP – Por: Joice Soares –  Foto: relaxahotels via Pixabay / CC0