Cientistas buscam alternativas a vírus modificados para terapia genética mais segura
O uso dos chamados vetores não virais pode evitar efeitos adversos ao paciente porque o gene não se integra ao genoma da célula hospedeira, sem deixar de atuar dentro dela.
O uso de genes no tratamento de doenças, a terapia genética, é uma técnica cada vez mais empregada em todo o mundo. Um estudo internacional realizado com a participação do Centro de Terapia Celular (CTC) da USP, em Ribeirão Preto, a partir de centenas de artigos científicos, ensaios clínicos e patentes, revela as principais tendências das pesquisas sobre terapia genética. O trabalho revela que a maneira mais utilizada para introduzir genes nas células doentes é por meio de vírus modificados, conhecidos como vetores virais. No entanto, para aumentar a segurança dos tratamentos, pesquisadores do CTC e de outras instituições pesquisam o uso de vetores não virais, moléculas que não se integram ao genoma das células, impedindo alterações nocivas ao organismo.
Os resultados do estudo são descritos em artigo publicado na revista científica Nature Biotechnology em 7 de fevereiro. Terapia gênica ou genética é a inserção de genes (ou fragmentos de DNA) nas células e tecidos de uma pessoa para o tratamento de uma doença. “Em pessoas que tem um gene defeituoso ou não tem um determinado gene, essa terapia pode ser usada para introduzir um gene funcional”, afirma Virginia Picanço e Castro, pesquisadora do CTC, uma das autoras do artigo. “Um exemplo é a terapia com células T-CAR, desenvolvida recentemente no Brasil, na qual um gene sintético é inserido nas células de defesa do sangue (linfócitos), que ganham a capacidade de identificar células tumorais.”
A pesquisadora explica que para inserir um gene dentro de uma célula é essencial o uso de um vetor, pois ele ‘carrega’ DNA para dentro do núcleo das células. Os vetores são divididos, quanto à forma de construção, em virais e não virais. “Os vetores virais, como os lentivírus e os adenovírus, são vírus manipulados geneticamente, de modo que infectem as células sem destruí-las”, relata. “Já os vetores não virais são geralmente moléculas circulares de DNA que não têm nenhum gene viral, as quais possuem uma existência independente nas células, ou seja, este DNA não se integra no genoma da célula hospedeira.”
O trabalho buscou explorar as terapias genéticas em desenvolvimento, projetar um panorama desse setor e entender os principais segmentos e suas tendências atuais. “Os pesquisadores utilizaram várias bases, artigos científicos, ensaios clínicos e patentes para entender o que está sendo realizado nesse campo”, destaca Virgínia. “Atualmente, os vetores virais são considerados mais eficientes e frequentemente utilizados nas pesquisas e ensaios clínicos.”
Novos vetores
Os vetores virais são eficazes para entregar o gene terapêutico, aponta a pesquisadora. “No entanto, eles apresentam risco de infecção e de estimular respostas imunes e oncogênicas, uma vez que, ao se integrarem ao genoma da célula, podem alterá-lo”, destaca. “Por isso é importante aumentar os esforços nas pesquisas que visem o desenvolvimento de novas metodologias.”