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Enxaqueca afeta equilíbrio de pacientes e aumenta risco de queda, aponta estudo da FMRP-USP

Submetidas a testes como subir e descer degraus, mulheres com a doença apresentaram tonturas e perda da estabilidade corporal. Pesquisa quer identificar fatores que contribuem para desequilíbrio.

á anos, a comerciante Sonia Myoto sofre com crises frequentes de enxaqueca, doença que atinge 31 milhões de pessoas no país, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia. As fortes dores de cabeça já a privaram do convívio social e a levaram ao isolamento em busca de alívio.

“Quando as crises vêm, você não tem vida. Você tem que ficar num quarto escuro, deitada. Não tem como você andar, não tem como fazer nada”, diz.

O desconforto era tanto que Sônia chegou a cair dentro de casa, no trabalho e até na rua. Para ela, os tombos durante os períodos de crise não passavam de mera falta de atenção, mas a suspeita de ligação entre as dores e as quedas motivou um estudo da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP), que apontou que a enxaqueca afeta diretamente o equilíbrio dos pacientes, contribuindo para os acidentes. 

Atividades comprometidas 

Por quatro anos, 210 mulheres com idade de 18 a 55 anos foram acompanhadas pelos pesquisadores. No Brasil, a doença acomete 22% das mulheres e 9% dos homens. Elas foram divididas em quatro grupos – pacientes com dor de cabeça e manifestação de aura, que é quando há ocorrência de alterações sensoriais e na visão e, pacientes sem aura, pacientes com dor de cabeça crônica, e que não sofrem com nenhum dos problemas.

Segundo a pesquisadora Gabriela Carvalho, todos foram testados em uma plataforma de força, de modo a desempenhar atividades rotineiras, como caminhar, subir e descer degraus, sentar e levantar. Oito sensores captaram as micro-oscilações do corpo e registraram os movimentos da pessoa. A vibração reproduzida no computador apontou a influencia da enxaqueca sob o equilíbrio.

“Comparamos o desempenho dos quatro grupos e verificamos que todos os pacientes com enxaqueca têm uma alteração pra realizar esses testes. Tanto os pacientes que têm a aura e os que têm a enxaqueca crônica, apresentam maior prevalência de quedas e desequilíbrios, lesões devido às quedas, tontura, comparado a pacientes sem aura e aos controles, aqueles que não têm enxaqueca.”

De acordo com Gabriela, a descoberta causa maior preocupação quando considerada a população idosa que sofre com a doença, uma vez que as quedas provocadas pelo desequilíbrio podem vir a oferecer alto risco de morbidade.

“Muitos idosos têm um índice muito alto de fraturas e de concussões cerebrais que podem levar ao óbito. Esses pacientes, agora, são relativamente jovens. Eles têm esse desequilíbrio, mas isso não os leva a nenhuma alteração importante, além de ralar. Eles continuam a vida normal. Nós nos preocupamos com o que vai acontecer quando esse desequilíbrio estiver associado com o processo de envelhecimento.”

Identificação de fatores

 Segundo a professora do Departamento de Ciência da Saúde da USP Débora Bevilaqua Grossi, o próximo passo da pesquisa é elucidar quais componentes são determinantes na falta de equilíbrio desencadeada pela doença.

“A gente detectou que o paciente tem essas alterações, mas não sabemos precisar se elas têm um componente principalmente prospectivo, vestibular ou visual, ou até mesmo relacionado ao controle neuromuscular da coluna cervical.”

Os resultados dos avanços da pesquisa podem ajudar na evolução de programas de prevenção, tratamento e orientação dos pacientes. Para Sônia, o estudo é determinante para obtenção de melhora da qualidade de vida.

“Ficar caindo não dá, fora a vergonha que a gente passa quando cai na rua, né? Nunca imaginei que isso tinha a ver com a enxaqueca.”

Segundo a professora Débora Bevilaqua Grossi, estudo sobre enxaqueca pode ajudar a melhor os tratamentos oferecidos (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

 

Referência: Por Jornal da EPTV 2ª edição – Fotos Carlos Trica/EPTV