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Estudo aponta que Abusos na infância podem prejudicar desenvolvimento da resiliência

É preciso trabalhar a capacidade de recuperação emocional das vítimas para outras situações que enfrentarão na vida.

Processo interativo e subjetivo, a resiliência é uma característica que dá aos indivíduos a capacidade de recuperação, mesmo vivenciando fortes estresses ou adversidades. O ser humano “precisa aprender continuamente a adaptar-se às diferentes realidades moldadas por essas adversidades”. Quem é resiliente sofre menos estresse e desenvolve-se mais como indivíduo e cidadão. Mas como fica a resiliência de vítimas de maus-tratos na infância?

Abusos na infância atrapalham o desenvolvimento da resiliência e favorecem o surgimento de sintomatologia depressiva e ansiosa, mostra artigo na Revista Eletrônica Saúde Mental, Álcool e Drogas(volume 13, número 3, 2017) Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da resiliência pode atuar como fator de proteção para crianças e adolescentes vítimas de abuso. Assim, tanto trabalhos preventivos quando intervenções para vítimas dessa violência devem incluir abordagens que fortaleçam nos sujeitos esse traço.

O objetivo do estudo foi caracterizar a resiliência em crianças e adolescentes que sofreram abusos na infância a partir de revisão da literatura científica, realizada em importantes bases de dados. A pesquisa mostrou que os abusos na infância provocam depressão e ansiedade, confirmando que o desenvolvimento da resiliência em crianças e adolescentes vítimas de abuso pode atuar como fator protetor para esses indivíduos. Principalmente hoje, a pressa, a ansiedade, as exigências sociais são fatores que, combinados a outros, desencadeiam estresse, doença, alterações psíquicas e emocionais, que podem gerar situações graves e fazer com que sejam tomadas atitudes extremas diante dos problemas da vida.

O foco do artigo da revista SMAD é o estresse precoce infantil, os maus-tratos, os traumas por agressões, o uso de drogas, violências de todo tipo que podem gerar alterações físicas, mentais e emocionais em crianças menores de 18 anos. “Nesse contexto, percebe-se que enfrentar infortúnios da infância pode causar marcas profundas no indivíduo por tempo indeterminado”. Respostas positivas geram capacidades, configurando nos sujeitos um maior nível de resiliência diante dos eventos causadores de estresse. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo é caracterizar a resiliência em crianças e adolescentes que sofreram abusos na infância, a partir de revisão da literatura científica. Eis a questão norteadora da pesquisa: como ocorre o desenvolvimento da resiliência em crianças e adolescentes que sofreram abusos na infância?

Quanto ao abuso em instituições, verificou-se, também, que o bullying na adolescência está associado a níveis maiores de sintomas depressivos e comportamento de delinquência. De acordo com as autoras, “a exposição e a violência no âmbito familiar e na comunidade pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do estresse pós-traumático em crianças e adolescentes. Filhos de mães com elevada exposição às drogas tiveram maior probabilidade de desenvolver agressividade e problemas de comportamento durante a vida, predominando nos menino”.

Um outro artigo incluído nessa categoria mostrou que indivíduos com características agressivas têm tendência maior a desenvolver abuso e dependência às drogas. Observou-se que altos níveis de resiliência e de autoestima defendem os adolescentes de problemas comportamentais, mesmo que eles estejam vivenciando maus-tratos psicológicos – função importante quando se atua no acolhimento do bem-estar de adolescentes que enfrentam adversidades.

Detectar os estressores na infância e na adolescência é essencial para prevenção e promoção em saúde, aumentando “as possibilidades para o desenvolvimento de resiliência nesses indivíduos”. Aí entra o papel essencial de levar-se em conta essa questão nos cursos de todos os profissionais ligados à saúde, além de retaguarda social e familiar para que a criança ou adolescente tenha todos os seus direitos assegurados, “para se garantir o direito à saúde em todos os níveis […], tendo seus direitos garantidos”. As autoras, finalizando, apontam a necessidade de estudos científicos de intervenção que ofereçam respaldo para o desenvolvimento de resiliência a fim de melhorar a “assistência a crianças e adolescentes que vivenciam situações de estresse precoce”.

Referência: Jornal da USP

Isabela Masucci de Lima Camargo – é mestranda na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP

Maria Neyrian de Fátima Fernandes – é doutoranda na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP e professora de Enfermagem na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e mestre em Enfermagem na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Marina Sayuri Yakuwa é doutoranda na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP

Ana Maria Pimenta Carvalho é professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP

Patricia Leila dos Santos é professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP

Edilaine Cristina Silva Gherardi-Donato é professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP

Débora Falleiros de Mello é professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP

Camargo, I., Fernandes, M. N., Yakuwa, M., Carvalho, A. M., Santos, P., Gherardi-Donato, E., & Mello, D. Resiliência em crianças e adolescentes vítimas de estresse precoce e maus-tratos na infância. SMAD Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas (Edição Em Português), v. 13, n. 3, p. 156-166, 2018. ISSN: 1806-6976. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v13i3p156-166.Disponível em: http://www.revistas.usp.br/smad/article/view/149385. Acesso em: 12 dez. 2018.

Margareth Artur / Portal de Revistas da USP – Foto: Alexandra via Pixabay – CC0