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Estudo realizado por pesquisadores da FMRP-USP aponta deficiência iódica em 57% das mulheres grávidas

Um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, citado nas Diretrizes de 2017, da American Thyroid Association para o diagnóstico e tratamento da doença tireoidiana durante a gravidez e o pós-parto, apontou que 57% das mulheres grávidas desenvolvem o hipotireoidismo, doença causada pela baixa produção de hormônios responsáveis por funções metabólicas essenciais como frequência cardíaca e digestão.

Reconhecida através de sintomas como sono e ganho de peso excessivos, nem sempre manifestados nas pacientes, a disfunção é associada não só a problemas na gravidez, como aborto e descolamento de placenta, mas também a prejuízos futuros à criança.

“Aumenta a chance de o bebê ser pequeno, ter uma restrição de crescimento, aumenta a chance de o bebê ter um atraso no desenvolvimento neurológico dele ao longo da infância. É uma condição que preocupa por causa dessas consequências e ao mesmo tempo é fácil de diagnosticar e fácil de fazer o tratamento”, afirma a médica obstetra Flávia Aguiar. 

Hipotireoidismo e gravidez

Localizada na região do pescoço, a tireoide é uma glândula responsável pela produção de dois hormônios – a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4) – essenciais para o metabolismo e ainda mais importantes na gestação.

Nesse período, a gestante precisa de uma dosagem diária de 250 microgramas de iodo – micronutriente necessário para a síntese desses hormônios -, 100 a mais do que em uma mulher que não está grávida.

Essa diferença, porém, não pode ser compensada apenas por intermédio da alimentação, explica a endocrinologista da USP Lea Maciel. Ao avaliar 191 gestantes atendidas em unidades básicas de saúde, ela constatou que 57% delas têm menos iodo do que o necessário, levando a uma produção deficiente dos hormônios T3 e T4, o hipotireoidismo – diferente do excesso, denominado hipertireoidismo.

“O iodo é importante na síntese dos hormônios tiroidianos maternos, porque esse hormônio passa pela barreira placentária e o feto precisa desse hormônio para o desenvolvimento das estruturas cerebrais já na vida intrauterina”, explica.

 Diagnóstico

Foi através do sono em excesso e do rápido ganho de peso que Elizabeth Jaskow Mac Micol descobriu ter hipotireoidismo nas duas vezes em que ficou grávida.

“Não tinha vontade de fazer nada, só queria ficar deitada. A coisa não estava do jeito que deveria estar, estava fora do normal”, afirma a mãe de um filho de 2 anos e outro de dois meses, que somente conseguiu solucionar o problema por meio de reposição hormonal.

O que Elizabeth sentiu quando esteve grávida representa parte dos sintomas comuns às mulheres que sofrem da baixa produção de T3 e T4.  Indisposição, queda de cabelo, alteração na frequência cardíaca, ressecamento na pele e no cabelo também fazem parte das evidências.

Entretanto, nem todas as pacientes com a disfunção hormonal apresentam tais sintomas, explica a obstetra Flávia Aguiar. “Algumas mulheres não têm sintomas. Aquelas que têm alterações discretas nos níveis dos hormônios têm o que a gente chama de hipotireoidismo subclínico. O diagnóstico vai ser feito baseado somente na alteração dos níveis hormonais”, afirma.

A solução, de acordo com especialistas, está no acompanhamento médico pré-natal e no exame de sangue, que vai apontar se o nível hormonal está adequado. A avaliação é primordial sobretudo para gestantes com mais de 30 anos, com histórico familiar de hipotireoidismo, diabéticas ou com outras doenças autoimunes, mulheres que passaram por abortos ou partos prematuros, entre outros casos apontados de alto risco.

“É muito importante fazer esse diagnóstico. Quando os níveis de hormônios tiroidianos são normalizados, a gestação transcorre normalmente, o bebê tem o desenvolvimento adequado, ela pode ter parto normal, pode amamentar. Se há um hipotireoidismo não diagnosticado ou que não se consegue um bom controle, pode realmente haver uma repercussão pra mãe e para o bebê”, alerta a obstetra.

 Tratamento

Segundo Lea Maciel, além do consumo de suplementos alimentares com iodo em sua composição até o período de lactação, gestantes com hipotireoidismo devem buscar um tratamento de reposição de hormônios na gestação, prescrita por um endocrinologista.

“O iodo deve ser continuado na lactação. A lactante vai necessitar de mais quantidades de iodo na sua dieta. O tratamento [hormonal] tem que ser reavaliado no período pós-natal”, diz.

Foi o que fez Elizabeth tanto na primeira quanto na segunda vez em que ficou grávida. Na primeira, a primeira dosagem foi suficiente para normalizar os níveis de T3 e T4 no organismo. Na segunda, foram necessários três meses de tratamento. Mesmo dois meses depois do parto, ela continua se medicando.

“Durante esses três meses é difícil manter o peso, ter disposição, ainda mais na segunda, com criança em casa para cuidar. Foi um pouco complicado, mas com acompanhamento correto tudo entra nos eixos”, afirma.

Acesse a reportagem referente ao assunto, veiculada no Jornal da EPTV, nesta Edição em “VÍDEOS EM DESTAQUE” ou  AQUI

 Referência: Do G1 Ribeirão e Franca – Foto: Arte/EPTV

http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2017/02/estudo-da-usp-aponta-hipotireoidismo-em-57-das-mulheres-gravidas.html