\ Universidade de São Paulo - Sites > Jornal Eletrônico do Complexo Acadêmico de Saúde == > Complexo na Midia > Gêmeas que nasceram unidas pela cabeça ganham ‘bonecas siamesas’ para reabilitação Bonequinhas de pano com velcro são usadas por médicos para Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, entenderem processo de separação. Irmãs seguem na USP em Ribeirão Preto (SP).

Gêmeas que nasceram unidas pela cabeça ganham ‘bonecas siamesas’ para reabilitação Bonequinhas de pano com velcro são usadas por médicos para Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, entenderem processo de separação. Irmãs seguem na USP em Ribeirão Preto (SP).

As gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que nasceram unidas pela cabeça e foram separadas após uma série de cirurgias no Hospital das Clínicas (HC-RP) da USP em Ribeirão Preto (SP), ganharam “bonecas siamesas”.

O brinquedo foi confeccionado por artesãs a pedido dos médicos e tem como objetivo facilitar a compreensão das meninas, de 2 anos, sobre o processo de separação. O pai das gêmeas, Diego Freitas Farias, conta que elas ainda estão se adaptando à nova vida.

“Elas sentem falta uma da outra. Às vezes, jogam o brinquedinho para trás, colocam na cabeça. Fica cheio de brinquedo na cabeça. Daí, a gente fala que elas não estão mais juntas, estão ao lado uma da outra. Aos poucos, vão acostumando, é um processo”, diz.

As bonecas feitas em tecido têm os nomes de Maria Ysabelle e Maria Ysadora gravados na roupinha, além de cachinhos, como os cabelos das gêmeas. No topo da cabeça, as artesãs colocaram um velcro, que permite unir as duas, assim como as siamesas nasceram.

“Fiquei muito emocionada porque relembrei como elas eram. No começo, quando eram mais novas, tinham esses cachinhos também. Eu acho que é bom elas entenderem, vou explicar como elas nasceram, que estão separadas, mas sempre unidas”, diz a mãe, Débora de Freitas,

 

As 'bonecas siamesas' doadas a Maria Ysadora e Maria Ysabelle em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

As ‘bonecas siamesas’ doadas a Maria Ysadora e Maria Ysabelle em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

O médico Hermes Prado Junior explica que, além de ser um brinquedo, as bonecas serão usadas no processo de reabilitação, para que as meninas entendam, de forma lúdica, como ocorreu a separação delas.

“Elas passaram dois anos, desde o nascimento até agora, com a sensação de que eram uma única pessoa. A separação é uma realidade tão impactante, tão diferente, que a gente precisa lançar mão de várias técnicas para que elas, progressivamente, passem a se entender como duas pessoas independentes”, afirma.

Artesã voluntária, Ana Márcia Tozzo diz que fica feliz em poder contribuir com a recuperação das gêmeas. Ela e outras nove mulheres confeccionam bonecas de pano que são distribuídas a crianças hospitalizadas ou que estão passando por algum tratamento médico.

“Essas meninas vão se tornar um exemplo de que tudo é possível, dentro da medicina e para Deus, e nós estamos participando, de certa forma. Ontem, as bonequinhas estavam na minha mão. Hoje, estão no aconchego das meninas. É muito importante fazer parte disso”, afirma.

 

Com as filhas no colo, Diego e Débora Freitas seguram as 'bonecas siamesas' em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Com as filhas no colo, Diego e Débora Freitas seguram as ‘bonecas siamesas’ em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

 Recuperação

 Maria Ysadora já recebeu alta e se recupera na casa onde a família mora provisoriamente, no campus da USP em Ribeirão. As meninas são de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), mas estão no interior de São Paulo desde janeiro para realizar a série de cirurgias para separação.

Maria Ysabelle continua internada porque recebeu um implante de pele na parte posterior da cabeça, na última quinta-feira (22). O cirurgião plástico Jayme Farina Junior afirma que a menina tem boa recuperação e deve ser liberada em breve.

“Felizmente, elas estão evoluindo muito bem. Elas estão nos surpreendendo com uma evolução bastante favorável. Se continuar dessa forma, no finalzinho do ano dá para elas irem para o Ceará e, provavelmente, elas voltam para reabilitação, durante o ano”, destaca.

 

Artesãs voluntárias confeccionaram 'bonecas siamesas' doadas a Maria Ysadora e Maria Ysabelle — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Artesãs voluntárias confeccionaram ‘bonecas siamesas’ doadas a Maria Ysadora e Maria Ysabelle — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

 Separação em etapas

 Comandado pelo professor chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica do HC-RP, Hélio Rubens Machado, o procedimento de separação das gêmeas foi dividido em cinco etapas para que pudesse ser concretizado com êxito.

A primeira operação ocorreu em 17 de fevereiro e durou cerca de sete horas. A segunda cirurgia, em 19 de maio, teve duração de oito horas. A terceira cirurgia ocorreu em 3 de agosto e também se estendeu por oito horas.

A quarta cirurgia aconteceu em 24 de agosto, quando os médicos implantaram expansores subcutâneos para dar elasticidade à pele e permitir que, no procedimento de separação total, os médicos pudessem cobrir o topo das cabeças das duas meninas.

A última cirurgia, em outubro, envolveu uma equipe multidisciplinar com 30 profissionais, incluindo quatro norte-americanos, entre eles o cirurgião James Goodrich, referência mundial no assunto e que acompanhou todas as etapas de separação das gêmeas.

 

Debora Freitas, a mãe das gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Debora Freitas, a mãe das gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Machado também afirma que a recuperação das gêmeas surpreende toda a equipe. Agora, as meninas passam por processo de reabilitação para adquirir força muscular, uma vez que, antes da separação, ficavam deitadas a maior parte do tempo.

Maria Ysadora e Maria Ysabelle também precisam aprender a andar e já começam a ingerir alimentos sólidos. Segundo o neurocirurgião, o maior desafio das irmãs é o desenvolvimento neurológico, uma vez que os cérebros também foram separados.

“Na idade delas, a gente usa um termo que se chama neuroplasticidade, que significa a capacidade que as crianças têm de ter uma recuperação muito boa, acima da expetativa, desde que se faça um bom programa de estímulo, e isso está sendo feito”, diz.

 

Débora Freitas com as filhas Maria Ysabelle e Maria Ysadora em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Débora Freitas com as filhas Maria Ysabelle e Maria Ysadora em Ribeirão Preto — Foto: Cláudio Oliveira/EPTV

Referência: Por G1 Ribeirão Preto e Franca