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Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é a esperança de quem está na fila aguardando por um órgão. Irineu e outros 1.456 pacientes ganharam nova chance de viver.

Até dez meses atrás, Irineu Rossi Júnior, 47 anos, era obrigado a se internar a cada três semanas para se submeter a paracentese – retirada de líquido do corpo por meio de punção. Em cada procedimento, expelia 12 litros de água acumulado em seu abdômen devido ao fígado falido. Após o transplante no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, a realidade e os planos são outros: ele conta as horas para retomar a atividade que lhe dá mais prazer: andar de bicicleta.

“O transplante foi como uma mágica, só preciso respeitar o tempo de recuperação. No começo, depois da cirurgia, não conseguia nem subir escada”.

Irineu é um dos 1.457 pacientes que se submeteram a transplante de órgãos e tecidos – fígado, córnea, medula óssea, pâncreas e rim – no HC de Ribeirão nos últimos cinco anos.

Dono de uma loja que vende e repara bicicletas, ele ficou um ano e meio na fila. Por conta da falência no fígado, tinha acúmulo de líquido na região abdominal e a pressão arterial era extremamente baixa – 8 por 4,5. “Ficava internado direto, cheguei a pesar 150 quilos. Fiz a paracentese durante um ano e meio”.

Antes de se submeter à cirurgia, Irineu tomava mais de 20 comprimidos por dia – agora toma seis. “São todos medicamentos para evitar a rejeição”, diz o comerciante.

Enquanto estava na fila, o comerciante diz ter presenciado a morte de quatro pacientes. “Me deram a chance de poder ajudar minha família, poder criar meus filhos, o resto vem de brinde”, comemora. E é exatamente essa chance que busca a costureira Moara Pereira da Silva, 33 anos. (leia mais ao lado).

Captação de órgãos

O responsável técnico pelo programa de transplante de fígado do HC de Ribeirão, Orlando de Castro e Silva Junior, afirma que o número de transplantes poderia ser maior, se todos os familiares de potenciais doadores autorizassem a captação. Segundo ele, a metade nega.

“As causas (da negativa) são variadas. A família não autoriza por questões religiosas, individuais ou por desconhecimento”, afirma. Silva Junior acrescenta que esse índice é um termômetro e demonstra que deveria ser incentivada a conscientização para a doação de órgãos.

Segundo ele, há 40 pacientes de Ribeirão Preto na fila pelo transplante de fígado. De acordo com o médico, o tempo de espera varia de seis meses a um ano.

Moara também quer o transplante para retomar a vida normal

A costureira Moara Pereira da Silva, 33 anos, não vê a hora de o telefone tocar com a notícia de que conseguiram um fígado para ela. O sonho dela é retomar a rotina da vida como fez o Irineu. Ela está há dois anos na fila para se submeter ao transplante.

“Na segunda-feira da semana passada me ligaram do hospital falando que havia um órgão para mim, mas minutos depois ligaram novamente e informaram que o fígado não estava 100% bom para ser transplantado. Agora, a qualquer hora eles podem me ligar”, afirmou, ansiosa.

Moara tem uma síndrome rara que causou falência no fígado e uma vez por mês tem de fazer a paracentese para retirar líquido da região abdominal. “Muita gente me pergunta se eu estou grávida e fico sem graça”, afirmou.

A costureira diz que hoje não pode fazer atividades físicas por conta de suas condições de saúde. “A única solução para eu viver melhor é o transplante. Meu sonho é ter um fígado bom e uma vida normal”, conclui.

Antonio ainda se recorda das sessões de diálise

O aposentado Antonio Carlos Spinelli Cebollero, 67, só conseguiu se libertar de dez anos de sessões de hemodiálise após ser submetido ao transplante de rim no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

“Eram três sessões por semana, acordava 5h30 e 6h já estava ligado à máquina. Demorava quatro horas para filtrar o sangue”, relembra.

O aposentado destaca que um dos maiores incômodos era que as sessões de hemodiálise o prendiam. “Não conseguia viajar para lugar nenhum. Seis meses depois que fiz o transplante, fui viajar para a praia”, disse Antonio. O aposentado se submeteu ao transplante em fevereiro de 2008.

Ele relembra até hoje o dia em que ligaram do hospital. “Eram 6h50 da manhã quando ligaram. Eu e minha família estávamos dormindo e ligaram dizendo que havia um rim para mim. Corremos e quando era 19h eu já estava na mesa de cirurgia para o transplante”, relembra.

Hoje, nove anos após o transplante, Antonio vai ao retorno médico de três em três meses e toma remédios para evitar a rejeição. “Depois do transplante não tive nenhuma recaída”, comemora.

Demanda por córneas reduz

O número de transplantes de córnea realizados no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto registrou queda de 37% em 2016 em comparação ao ano anterior – de 159 caiu para 100 procedimentos. Segundo a direção do hospital, a redução no número de procedimentos se deve diretamente à diminuição da demanda.

Em contrapartida, o número de transplante de rim foi o maior dos últimos cinco anos, com 63 procedimentos.

A redução no número de transplantes de córnea puxou para baixo o total de transplantes de órgãos e tecidos do hospital realizados ano passado em comparação a 2015. O número caiu de 325 para 271, uma redução de 16%.

Faltam campanhas para incentivar a doação

“São inúmeras as amarras que explicam a relutância das famílias em doar os órgãos após a morte da pessoa querida. Há um motivo cultural envolvido e também religioso, no sentido de não profanar o corpo. A máxima de fazer o bem sem olhar a quem é pouco praticada, sendo muito mais comum a doação dentro da família, muitas ainda se fecham à comunidade. Por outro lado, faltam campanhas públicas que incentivem os familiares a autorizar a doação. Vemos muitas campanhas estimulando a doação de sangue e poucas ações de estímulo às doações de órgãos. Falta desmistificar essa questão. Em meio a uma situação de perturbação, os familiares têm de decidir algo importante como a doação dos órgãos. É nesse momento que o grupo multiprofissional do hospital deve fazer uma abordagem sensível e adequada, deixando claro toda a grandeza da doação de órgãos. Que a doação vai salvar outras vidas. Apesar dessas barreiras que persistem, houve um avanço na consciência das famílias nos últimos anos”.

Referência: Jornal ACIDADE ON – Por: Lucas Castanhyo