\ Universidade de São Paulo - Sites > Jornal Eletrônico do Complexo Acadêmico de Saúde == > Complexo na Midia > Hospital em Ribeirão Preto usa novo método para avaliar desnutrição infantil Protocolo utilizado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é uma alternativa para reduzir tempo de internação hospitalar de crianças. A desnutrição é considerada um problema de saúde pública mundial e a avaliação adequada serve como indicador de prognóstico do paciente.

Hospital em Ribeirão Preto usa novo método para avaliar desnutrição infantil Protocolo utilizado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é uma alternativa para reduzir tempo de internação hospitalar de crianças. A desnutrição é considerada um problema de saúde pública mundial e a avaliação adequada serve como indicador de prognóstico do paciente.

Mesmo com os benefícios já apontados e com os diversos métodos existentes atualmente, a avaliação nutricional continua sendo pouco executada em grandes hospitais. Até o momento, a maior parte dos modelos de protocolos de triagem nutricional é direcionada para a avaliação de adultos deixando uma lacuna quanto à análise de outras faixas etárias.

Com base nesse cenário, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP criaram um protocolo para triagem de desnutrição infantil hospitalar nas crianças e adolescentes no momento da internação no Hospital das Clínicas da FMRP da USP. 


A nutricionista Vicky Nogueira Pileggi – Foto: Divulgação

 

De acordo com a pesquisadora e nutricionista Vicky Nogueira Pileggi, o protocolo desenvolvido é um método rápido e fácil que pode ajudar a “classificar a criança ou adolescente de acordo com o risco nutricional e, ainda, selecionar aqueles que apresentarem maior risco, e assim avaliar mais de perto a evolução durante a internação”. Vicky explica que o objetivo é “implementar o uso diário do método no Hospital das Clínicas, uma vez que a cada dia existe uma nova internação”. A pesquisadora lembra que em hospitais terciários, como o HC-FMRP, que atendem doenças mais graves e complexas, a prevalência de desnutrição infantil é alta, em torno de 35%, mas que é possível diminuir.

Já para o professor e orientador da pesquisa, José Simon Camelo Júnior, do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP, além do protocolo possibilitar um acompanhamento mais adequado às crianças e adolescentes internados, o método é também uma ferramenta que pode ajudar na redução dos custos hospitalares oriundos da internação. “Do ponto de vista social, o método representa um instrumento importante de melhora no manejo, redução do tempo de internação e consequentemente redução de custos hospitalares”, explica o orientador. Camelo Júnior acrescenta que existem protocolos internacionais para avaliar desnutrição infantil em hospitais, mas desconhece protocolos nacionais.

A criação do protocolo de triagem aconteceu após a constatação da prevalência de desnutrição infantil entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2013, pela análise de 292 pacientes. Aos dados coletados foram aplicados dois tipos de métodos; o primeiro conhecido como estudo descritivo transversal, que, segundo a pesquisadora, pode ser comparado a uma fotografia do momento presente. “É como se tirássemos uma foto de todos os pacientes internados e víssemos quais estão desnutridos e quais não”, diz Vicky. Os dados obtidos permitiram a classificação das crianças e adolescentes pelos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Já o segundo método para a análise foi a impedância bioelétrica, definida por Vicky como “um exame de avaliação da composição corporal duplamente indireto, realizado através de uma corrente elétrica imperceptível e indolor capaz de medir a quantidade de resistência no corpo, ossos e gordura corporal”. A pesquisadora explica que esse método aplicado em crianças “não é tão preciso, pois em adultos todos os ossos já estão formados, tornando maior a precisão dos resultados obtidos”. A esse método, Vicky acrescentou o cálculo do ângulo de fase.

Resultados e próximos passos

Os resultados mostraram que dos 292 pacientes analisados, 35,27% apresentaram desequilíbrio nutricional, sendo 16,10% com quadro de subnutrição e 19,27% de sobrepeso, de acordo com o método descritivo transversal. Já na classificação pelo método da impedância, Vicky explica que “os dados mostraram um quadro mais acentuado de desequilíbrio nutricional, 55,45%, sendo 51,25% de subnutrição e 4,20% de sobrepeso”. Isso aconteceu uma vez que os dados obtidos pela impedância são mais sensíveis à subnutrição e os da OMS, ao sobrepeso.

Segundo a pesquisadora, os dados coletados apontaram o Hospital das Clínicas da FMRP dentro dos parâmetros de hospital terciário no que diz respeito à prevalência de desnutrição infantil. “Por isso foi elaborado o protocolo que no momento está sendo validado”, explica.

Vicky acrescenta que durante a pesquisa outro dado avaliado foi a importância do aleitamento materno como fator protetor contra a desnutrição. “Vimos que o aleitamento materno pode influenciar positivamente no estado nutricional de crianças, mesmo depois de terem passado do período de amamentação”, diz a pesquisadora. Isso mostra a importância do aleitamento materno para todas as crianças, internadas ou não.

Para o orientador Camelo Júnior, num futuro próximo, a população infantil poderá se beneficiar do novo protocolo. “Os próximos passos do estudo são a validação e a aplicação rotineira”. Estamos trabalhando para a validação do protocolo para implementá-lo como forma de rotina no HC Criança”, afirma Camelo Júnior.

O orientador complementa que entre os objetivos e estudos futuros está a criação de um aplicativo que facilite ainda mais o manuseio do check list de avaliação nutricional. “Além da validação do protocolo, está sendo desenvolvido um projeto para que o método seja transformado em aplicativo para celulares e tablets, podendo ser utilizado na beira do leito”, acrescenta Camelo Júnior.

A dissertação Estudo sobre a prevalência de desnutrição infantil no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo foi apresentada no final de 2014.

Referência: Jornal da USP – Por: Crislaine Messias, de Ribeirão Preto