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Médico do HC prevê 5ª etapa antes de separação total de irmãs siamesas unidas pela cabeça Segundo cirurgião, procedimentos foram remanejados para aumentar segurança dos trabalhos, mas prazo final segue mantido para novembro. Após 2ª cirurgia, pacientes devem deixar UTI nesta terça

A equipe multidisciplinar que atua na separação das gêmeas siamesas unidas pela cabeça em Ribeirão Preto (SP) deve estabelecer uma quinta etapa antes da conclusão de todos os trabalhos, afirmou ao G1o chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas (HC-RP), Jayme Farina Junior.

A segunda etapa foi realizada no sábado (19) e foi concluída após oito horas. Assim como na primeira intervenção, realizada em fevereiro, os trabalhos foram concentrados na desvinculação de veias que unem as duas cabeças, o que ainda deve ser estender para a terceira fase, prevista para agosto. As meninas responderam bem à cirurgia, se alimentam, respiram e se comunicam normalmente, e devem deixar a unidade de terapia intensiva (UTI) nesta terça-feira (22).

Segundo Farina Junior, a quarta etapa, que seria a última, será integralmente dedicada a expandir a área de cobertura da pele no crânio das crianças, hoje com 1 ano e dez meses, e garantir que elas tenham tecidos próprios suficientes para a finalização dos trabalhos mais adiante.

 
Médicos anunciam resultado da segunda cirurgia de irmãs siamesas em Ribeirão Preto, SP

Médicos anunciam resultado da segunda cirurgia de irmãs siamesas em Ribeirão Preto, SP

“A princípio haveria quatro etapas, a última seria a separação final. Agora foi optado por se fazer a colocação dos expansores de pele na quarta etapa independentemente da equipe de neurocirurgia, pra que não haja possibilidade de alguma interferência danosa da colocação dos expansores com a cirurgia da neurocirurgia”, disse.

Prevista para novembro deste ano, a quinta etapa, segundo ele, deve ser marcada pela separação definitiva dos ossos e pelo fechamento da pele dos crânios, com cortes chamados de retalhos que já estão sendo projetados e feitos com base nos tecidos retirados das próprias pacientes. Depois disso, vem um processo de cicatrização, que pode levar meses.

“A neurocirurgia termina a separação do cérebro e aí vai ser feita a confecção dos ossos, dos enxertos ósseos pra tentar simular o máximo a curvatura do crânio de cada criança. Por cima disso vem o retalho que estamos fazendo desde agora”, afirma.

Acompanhadas há mais de um ano no interior de São Paulo, as meninas do Ceará foram levadas para cirurgia às 7h e deixaram a sala às 15h30, segundo o HC. Diferente da primeira etapa, os profissionais tiveram pela frente menos canais venosos e mais massa encefálica para separar, segundo o neurocirurgião Ricardo Santos de Oliveira.

 Imagem da segunda etapa da separação das gêmeas siamesas no HC em Ribeirão Preto (Foto: Divulgação/HC-RP)

Imagem da segunda etapa da separação das gêmeas siamesas no HC em Ribeirão Preto (Foto: Divulgação/HC-RP)

“Passamos um dia inteiro planejando essa etapa que foi a utilização do neuronavegador. Em linhas gerais é como se fosse o nosso GPS. É um aparelho que a gente utiliza muito em cirurgia funcional, em cirurgia de tumor cerebral quando nós queremos a localização exata de um ponto”, explica.

Essencial para a continuidade dos trabalhos, uma tomografia mais minuciosa deve ser feita em um mês, assim como um modelo tridimensional ainda mais detalhado que os anteriores, além de exames como os voltados para a atividade vascular nos locais que já foram separados.

O chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica do HC, Hélio Machado, confirma que ainda existem incertezas em relação a certas áreas dos cérebros ainda não exploradas nos procedimentos, mas que a possibilidade de fazer o trabalho em etapas e os protótipos elaborados têm ajudado a equipe a antever situações e atuar com cada vez mais precisão.

“É muito difícil para o médico, pegando uma situação tão complicada como essa, olhar um exame, comparar um exame em dois planos, sem que ele seja tridimensional, sem que tenha noção de profundidade, reconstruir mentalmente a imagem pra levar pra cirurgia. Por isso a gente usa esse tipo de modelo, que a gente chama de simulação. Hoje é uma realidade no mundo inteiro para casos concretos. A gente pode simular a cirurgia, a nossa cirurgia pode ser feita na semana anterior, no dia anterior, pode ser rediscutida quantas vezes quiser. Com isso a gente consegue reduzir riscos”, diz.

Equipe médica responsável pela cirurgia de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (SP) (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

Equipe médica responsável pela cirurgia de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (SP) (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

 Entenda o caso

As meninas, naturais de Patacas, distrito de Aquiraz, a 35 km da capital Fortaleza (CE), são acompanhadas há mais de um ano no interior de São Paulo por cerca de 30 profissionais, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas e enfermeiros.

O neurocirurgião Eduardo Jucá, responsável pelo acompanhamento das irmãs no Ceará foi quem as encaminhou ao hospital em São Paulo. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e especializou-se em neurocirurgia pediátrica.

Ele tomou conhecimento do caso das irmãs pouco tempo após o nascimento delas, quando as duas foram encaminhadas ao hospital onde ele atua como coordenador. Devido à complexidade, entrou em contato com a equipe do HC para articular as avaliações.

Para viabilizar as cirurgias, exames complexos de ressonância magnética feitos no HC foram enviados à equipe do neurocirurgião James Goodrich, no Montefiore Medical Center, em Nova York. Eles propiciaram a criação dos moldes tridimensionais que auxiliam a equipe na cirurgia.

Goodrich dedicou a carreira a casos complexos como este e já realizou 20 cirurgias de sucesso pelo mundo.

Referência: G1 Ribeirão e Franca – Por: Rodolfo Tiengo – https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/medico-do-hc-preve-5a-etapa-antes-de-separacao-total-de-irmas-siamesas-unidas-pela-cabeca.ghtml