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Pesquisa conclui que parto normal não é decidido por “partograma”

Estudo com cerca de 10 mil parturientes sugere avaliação individual de mães; medida já foi adotada pela OMS para redução de mortalidade materna

Quanto tempo dura um trabalho de parto normal? Pesquisadores do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP afirmam que “não existe um padrão que indique a normalidade na progressão do parto”. Este foi um dos primeiros resultados do projeto BOLD (do inglês Better Outcomes in Labour Difficulty – Melhores resultados em dificuldades do trabalho de parto), estudo que realizam, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), na Nigéria e Uganda, África.

A equipe da FMRP estudou cerca de 10 mil mulheres que deram entrada em trabalho de parto nos hospitais desses países e verificaram que a evolução do parto normal não segue à risca o “partograma”. A referência de parto mais comumente utilizada (1cm por hora de dilatação do colo do útero em mulheres que dão à luz pela primeira vez) foi desenvolvida nos anos 1950 e convertida em ferramenta gráfica (partograma) nos anos 1960.

Os achados sobre os partos na África questionam a validade das “linhas de alerta do partograma” e sugerem que cada mãe deve ser avaliada de maneira individual. Resultado da primeira etapa do projeto BOLD, o estudo já foi responsável por mudanças nas recomendações da OMS relativas ao parto, publicadas em abril deste ano numa nova diretriz global sobre o manejo do trabalho de parto.

O BOLD começou em 2014 com objetivo de contribuir para a melhora da saúde das mulheres e bebês. O continente africano foi escolhido para o início dos trabalhos porque é o que apresenta os maiores índices de mortalidade materna e peritanal, além condições mais desfavoráveis para intervenções, como a cesárea e o uso da ocitocina, medicação para acelerar o trabalho de parto.

O coordenador do BOLD, professor da FMRP João Paulo Souza conta que a Nigéria concentra 20% de todas as mortes de mães do mundo devido às limitações do sistema de saúde local e o tamanho da população. O país registra em torno de 800 mortes de mães por 100 mil bebês nascidos vivos; número que no Brasil é de 44 mortes e nos países desenvolvidos, 20. O que significa que 99% dessas mortes ocorrem nos países em desenvolvimento.

O BOLD trabalhou com dados das mulheres que chegaram ao hospital em início de trabalho de parto espontâneo e apresentavam dilatação cervical menor que 6 cm, naturalmente ou induzida pela ocitocina. Coletaram informações como características antropométricas, obstétricas, médicas e sociodemográficas.

Informa o professor Souza que este foi um estudo epidemiológico em que determinaram os padrões para um novo partograma. A próxima etapa, continua Souza, será de intervenção para que o novo modelo de partograma sem essa linha de alerta (da dilatação cervical) seja testado. “Vamos compará-lo com o partograma tradicional na assistência ao parto”.

Como esse tipo de pesquisa tem impacto nas políticas públicas, principalmente depois da publicação das diretrizes da OMS, “essas orientações devem influenciar diversos países, inclusive o Brasil, num futuro próximo”, lembra Souza. A ideia é “expandir o BOLD para o Brasil, implantando coletas de informação e desenvolvendo um padrão brasileiro de avaliação de progressão do trabalho de parto”.

O artigo com detalhes do estudo na África, Cervical dilatation over time is a poor predictor of severe adverse birth outcomes: a diagnostic accuracy study, foi publicado na edição de abril deste ano da revista Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG). Ao lado do professor João Paulo Souza, assinam a publicação colegas e pesquisadores do Departamento de Medicina Social da FMRP, da OMS e das Universidades de Ibadan (Nigéria) e de Makerere (Uganda).

Mais informações: jp.souza@usp.br ou junior910@gmail.com

Referência: Portal de Informações da USP Ribeirão Preto – Por: Maju Petroni