Pesquisadores do HC-USP usam células-tronco para controlar diabetes
Tratamento utiliza células que reconstróem medula após forte quimioterapia.
Segundo pesquisador, resultados positivos livraram pacientes da insulina.
Unidade que realiza transplante de células-tronco no Hospital das Clínicas em Ribeirão é a única na América Latina, diz o pesquisador Carlos Eduardo Barra Couri (Foto: Adriano Oliveira/G1)Pesquisadores do Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (HC-RP) estão conseguindo livrar pacientes de diabetes tipo 1 do uso diário de insulina através de um tratamento inédito no mundo: o autotransplante de células-tronco saudáveis.
Os estudos tiveram início há nove anos e nesse período, quatro pessoas já deixaram a medicação, sendo três delas há mais de cinco anos. Outros 18 pacientes que passaram pelo tratamento voltaram a necessitar do hormônio depois de um período de seis meses a cinco anos, mas apenas uma vez ao dia.
Para o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, um dos coordenadores da pesquisa, os resultados ainda são recentes para confirmar a cura da doença, mas representam melhor qualidade de vida aos pacientes. “Em longo prazo, o risco de eles terem problemas de visão, insuficiência renal, falência do pâncreas e amputação dos membros, consequências comuns nesse tipo de diagnóstico, é muito menor”, disse.
Tratamento
Barra Couri explicou que o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema imunológico destrói as células do pâncreas responsáveis por produzirem insulina. “Por isso, o tratamento consiste em desligar quase que completamente o sistema imunológico do paciente através de sessões de quimioterapia altamente agressivas”, disse.
Após essa etapa, os pesquisadores introduzem na corrente sanguínea as células-tronco chamadas hematopoéticas, capazes de construir um novo sistema imunológico. Essas células são retiradas da medula óssea do paciente, antes da quimioterapia.
come alimentos diet (Foto: Adriano Oliveira/G1)
“A memória imunológica que a pessoa tinha antes – tanto das coisas boas, como das coisas ruins – é deletada. Até as vacinas que ela tomou quando era criança também são esquecidas, assim como a função das células doentes que destruíam o pâncreas”, disse o pesquisador.
Qualidade de vida
Livre das aplicações de insulina há cinco anos, o auditor Humberto Flauzino Guimarães, de 22 anos, contou que o tratamento mudou sua vida. Ele descobriu a doença quando ainda era adolescente e precisou abandonar as coisas que mais gostava, como sair para comer pizza e beber com os amigos.
“Na época foi difícil, eu tinha que aplicar insulina antes de cada refeição. Quando descobri que poderia tratar com células-tronco, minha família ficou com medo porque é uma técnica nova, mas eu tinha certeza que daria certo”, afirmou.
Atualmente, Guimarães realiza exames a cada seis meses e, por orientação dos médicos, só come alimentos diet. “Meu remédio é atividade física e alimentação saudável. Ganhei qualidade de vida e aprendi muito com essa experiência. Espero continuar bem por muitos anos ainda.”