\ Universidade de São Paulo - Sites > Jornal Eletrônico do Complexo Acadêmico de Saúde == > Complexo na Midia > Primeiro transplante de rim do HC de Ribeirão Preto faz 50 anos: ‘treinamos durante 3 anos em cães’, diz médico Procedimento realizado em 1968 no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto foi o primeiro da América Latina utilizando o órgão de uma pessoa morta e ajudou a impulsionar doações no país.

Primeiro transplante de rim do HC de Ribeirão Preto faz 50 anos: ‘treinamos durante 3 anos em cães’, diz médico Procedimento realizado em 1968 no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto foi o primeiro da América Latina utilizando o órgão de uma pessoa morta e ajudou a impulsionar doações no país.

Muitas expectativas e dúvidas marcavam o meio médico em fevereiro de 1968 quando profissionais do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) entraram para a história com o primeiro transplante na América Latina de um rim retirado de uma pessoa morta.

Até então, procedimentos parecidos tinham sido realizados em poucos países do mundo. No Brasil, cirurgias anteriores já haviam sido feitas somente a partir de doadores vivos no HC de São Paulo.

“A cirurgia era pioneira, nunca tinha sido feita aqui no Brasil, e fizemos essa cirurgia sem ter visto uma no ser humano. Nós treinamos durante três anos em cães, semanalmente, e nos sentíamos preparados para fazer”, afirma o médico Antônio Carlos Martins, professor aposentado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão (FMRP/USP), que atuou no caso quando tinha 26 anos na equipe do cirurgião Áureo José Cicconelli.

Hoje, um dos principais centros médicos do país contabiliza 1,6 mil procedimentos bem-sucedidos de rim e o país vive uma realidade distinta, com mais facilidades e uma maior conscientização para a doação de órgãos.

 

Antônio Carlos Martins, professor aposentado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

Antônio Carlos Martins, professor aposentado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

O Brasil realizou, entre janeiro e setembro do ano passado, 4,4 mil cirurgias de rim entre janeiro e setembro do ano passado, 7% a mais na comparação com o mesmo período de 2016, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (Abto).

Mas em 1968, Martins lembra que havia uma grande resistência das famílias em ceder os órgãos, sobretudo em função da falta de informação. O rim usado no transplante era de uma mulher de 28 anos. “Falamos em solidariedade, na ajuda ao próximo, de que um dia é a gente que pode precisar, e o marido concordou.”

A cirurgia, que durou cerca de quatro horas, também veio antes de mudanças importantes para as doações em geral, como regulamentações para garantir a segurança da prática.

“É importante que a população saiba que quem diagnostica a morte não é a equipe que faz transplante. São outros médicos, é importante que também saibam que o time de transplante não pode pedir mais de um órgão. Existe uma equipe preparada para isso.”

 

Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

 Evolução

 Depois de cirurgias como essa, o Brasil teve um processo de unificação do banco de dados de doadores, a partir de 1986, que garantiu uma maior democratização dos transplantes, avalia Martins.

“Achar um semelhante não é comum, mas se você junta um monte de centros de transplante e aí você tem mil, dois mil, cinco mil pacientes fazendo hemodiálise, aí você coloca no computador. Você tem mais sucesso e você evita também que o mais rico passe na frente do mais pobre.”

O país considera-se como o detentor do maior sistema público de doações de órgãos do mundo. Incluindo rim, fígado, coração e intestino, o país registra uma média de 51,6 doadores em potencial por milhão de habitantes, segundo registros de setembro do ano passado, da Abto.

Mesmo diante das mudanças, a espera por um rim compatível demorou cinco anos para Aparecido Bim, desde que ele perdeu as funções do órgão. A espera, no entanto, foi recompensada pela possibilidade de desempenhar simples tarefas como beber água.

Para ele, a solidariedade foi fundamental. “Acho muito importante, muito válido, por exemplo, essa pessoa que faleceu [e doou o rim para ele], deu duas vidas: pra mim e pro meu companheiro aqui do lado, acho muito bom a pessoa poder doar os órgãos”, diz o paciente do HC de Ribeirão.

Referência: Por G1 Ribeirão e Franca – https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/primeiro-transplante-de-rim-do-hc-de-ribeirao-preto-faz-50-anos-treinamos-durante-3-anos-em-caes-diz-medico.ghtml