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Prof. Dr. Geraldo Duarte (FMRP-USP) faz a diferença na Medicina

– Então, menina: qual parte da história você vai querer?

Ele decide começar pelo nome. Era para ser Geraldo Helton Duarte.

Geraldo para pagar a promessa da tia Germana. Helton para seguir a rima dos irmãos mais velhos: Milton, Ailton e Hilton.

Na igreja – família católica, do interior de Minas Gerais – o nome composto já estava registrado. No cartório, o pai achou muito grande e deixou Geraldo Duarte.

Geraldo tem dois nomes: o que é, e o que poderia ter sido.

Vai ver por isso teve tantas idas e vindas entre o que podia ter sido.

Para a sorte de todos, escolheu ser o que é.

Aos 11 anos, deixou de ir à escola porque queria ser fazendeiro. Voltou para a sala de aula e decidiu, então, ser engenheiro. Mudou de ideia no primeiro ano do curso.

– Eu gostava mesmo é de gente.

E, então, tomou a decisão quase final. Geraldo (Helton) Duarte decidiu ser médico.

Caçula, foi o primeiro entre os 14 irmãos a escolher a profissão. O primeiro em toda família Duarte.

A inspiração foi o médico Tácito Guimarães, único da pequena cidadezinha, daquele tipo que cuidava de todas as dores do povo. Ele só não fazia parto, é bom frisar.

Geraldo quase optou pela residência em Psiquiatria, inconformado com a forma como o paciente psiquiátrico era tratado na década de 70. Um professor fez o alerta: “O seu objetivo é bom, mas a saúde mental não vai se resolver em uma geração”.

Frustrado com uma realidade tão estática, optou pela Ginecologia e Obstetrícia. Preenchendo a lacuna do Dr. Tácito, Geraldo faria partos.

Desse caminho não desviou. Bem o contrário: é referência em infecções na gravidez, pioneiro nos estudos da Aids na gestação, um dos nomes responsáveis pela humanização do pré-natal.

Tão importante quanto: é o médico amigo, do tipo que escuta o desabafo da família toda e até fiador de paciente que precisava de casa já foi.

A mulher, que recém acabara de ter um bebê, descobriu uma traição do marido e haja confusão familiar! Geraldo escutava os lamentos a cada consulta.

Em uma delas, a paciente chegou com o contrato de locação nas mãos. Tinha saído de casa e fez o pedido, quase anúncio: “O senhor vai ser meu fiador!”. Teve como não aceitar?

Geraldo chegou em Ribeirão Preto em 78, para a residência na USP, e ficou. É professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão e atende no Hospital das Clínicas. O currículo extenso vai de vice-presidente da faculdade à coordenador de grupos de pesquisa internacionais. Ele chega ao campus às 7h e só sai quando a luz apaga.

– Eu tive muita oportunidade na Medicina. Mas não dariam oportunidade para alguém que não trabalhasse.

Ajudou a fundar o Seavidas (Serviço de Atenção à Violência Doméstica e Agressão Sexual), criou o Amigo (Ambulatório de Moléstias Infecciosas em Ginecologia e Obstetrícia), ajudou na implementação de um SUS recém-criado.

Sempre atuou em uma área que poucos profissionais se interessavam em atuar.

– São os excluídos. A sociedade combate e a própria sociedade cria o veneno.

Brigou para incluir a sorologia que detecta o HIV no pré-natal de todas as gestantes, não só no grupo de risco.

– Tudo o que a sociedade proíbe ou condena o paciente não te conta.

O exame, ele defendeu sob uma enxurrada de críticas, seria a única forma eficiente de detectar o vírus e prevenir a transmissão vertical, que é a infecção do feto pela mãe durante a gravidez.

Hoje, graças a sua luta, a sorologia é obrigatória.

Também levantou a bandeira de que as mulheres com HIV não poderiam amamentar seus bebês e foi condenado por boa parte da sociedade médica. As pesquisas comprovaram sua tese, que também é a orientação dada hoje.

Por tudo, ficou conhecido como o médico que conseguiu reduzir a transmissão vertical, e foi convidado pela Organização Mundial de Saúde a ajudar a África. Esteve nos países africanos na década de 90 e depois em 2012.

Tem o otimismo estampado na retina brilhante. Diz que é um tanto médico e um tanto “juiz de paz”, e tira risadas. Ensina seus alunos a lidarem com o humano.

– Eu sou um cuidador. Eu ensino a cuidar.

Hoje, já não faz tantos partos, pelas tantas funções que ocupa. Quando surge uma oportunidade entre um corredor e outro do hospital, não desperdiça, porém.

– O nascimento de uma pessoa é de chorar, e eu choro. É o primeiro contato dela com a vida. Se eu pudesse, só faria isso.

 

Aos 64 anos, não pensa em tirar o pé do acelerador. Diz que não serve para pescarias, tempo livre, dias à toa. E, então, já tinha escolhido mais uma batalha médica.

Buscava implantar o pré-natal da família, com a inclusão do parceiro em todo o processo médico.

– O pré-natal não é da mulher. É família e até da comunidade.

O mundo foi surpreendido pelo vírus da zika, porém. E os conhecimentos de Geraldo se fizeram mais que necessários. Os projetos de pré-natal estão na espera, enquanto o médico integra os grupos mundiais de pesquisa da zika.

No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, criou o Ambulatório de Zika na Gravidez e na epidemia chegou a atender 20 pacientes por dia.

– A zika é o desafio do mundo.

Aceitou mais esse desafio com fé.

Não se sente deus, mesmo com tantos feitos. Acredita “Nele”.

–  Tem situações que só Deus pode intervir. Não estão no nosso controle.

Diz que vai seguir em frente até quando “Ele” der forças.

– Nada como o tempo. O tempo mostra onde a verdade deve estar; e não onde eu acho que ela deve estar.

Finaliza – mas só o texto. Na Medicina, ainda tem muito a concluir.

Referência: historiadodia.com.br