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Prof. Marco Andrey Cipriani Frade leva informações sobre a hanseníase Brasil afora

Era um dia de férias na praia, final de 2008. Olhou para a perna e percebeu a mancha clara e o formigamento.

Ficou encucado com motivo. Já trabalhava com a doença havia quatro anos.

De volta à Ribeirão Preto, procurou companheiros de trabalho. Todos remediaram a situação: “Não é hanseníase! Pode ficar tranquilo”.

Marco Andrey sabia que era. Os exames e uma professora confirmaram e não houve medo. O médico descobrira a tempo de um tratamento eficaz e sem sequelas.

O alerta era outro:

– Era uma manifestação tão evidente e os profissionais tiveram dúvida. É curável quando diagnosticada cedo. Mas nem os pacientes, nem os profissionais de saúde se lembram dessa hipótese no momento do diagnóstico.

O médico Marco Andrey Cipriani Frade reforçou ali o que já acreditava.

– É preciso informar! A hanseníase é muito estigmatizada porque não há informação. O preconceito é a falta de conceito.

Foi combustível para colocar em ação o plano de sair pelo Brasil levando informação e intensificar os treinamentos de profissionais em Ribeirão Preto e outros tantos lugares.

Um ano antes havia conhecido na Índia um professor que buscava pacientes com sinais de hanseníase no interior do Pará.

Começou, então, a acompanhar as expedições e levar seus alunos.

– Sair dos muros da universidade, ir à campo, torna a vida da gente fascinante.

Marco Andrey Cipriano: Sociedade Brasileira de Hansenologia

Arruma a mala, enche os espaços vagos com conhecimento e sai por aí.

Se é para levar informação, não há lugar longe demais Brasil afora.

Piauí, Pernambuco, Pará, Distrito Federal, Roraima, Bahia, Mato Grosso: Marco Andrey não tem mais as contas de quantos interiores e capitais conheceu.

Guarda consigo, porém, o saldo de cada viagem. Que, na soma, é o mesmo:

– Informar. O que se precisa é de informações.

Por ano, são, em média, oito viagens, com duração de uma semana.

Leva alunos, faz questão de estar presente.

Carrega consigo a sua forma de ser médico:

– Saber das coisas é o que me move. É a missão de todo médico. Saber o porquê e buscar a resposta quando não se sabe.

Ao primeiro convite para trabalhar com hanseníase, feito por uma professora da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto, lá em 99, respondeu sem muito entusiasmo.

– Eu achava que não tinha o que se pesquisar em hanseníase.

Há cinco anos, ocupa a presidência da Sociedade Brasileira de Hansenologia.

É também coordenador do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária – Hanseníase, professor de dermatologia do Departamento da Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, coordenador do Grupo de Cicatrização da Dermatologia, médico do Hospital das Clínicas.

– Hoje eu vejo o quanto eu ainda tenho que descobrir em relação a essa doença.

Em São João del-Rei, interior de Minas Gerais, cresceu Marco Andrey.

O pai era viajante, a mãe cozinheira e, quando decidiram abrir um bar-restaurante, Marco Andrey era quem ajudava a servir e a cuidar.

A Medicina veio como união de objetivos:

– Eu queria fazer algo ligado ao serviço social, onde pudesse lidar com as pessoas, e, ao mesmo tempo, algo financeiramente satisfatório para apoiar minha família.

Pensou até em Agronomia, mas, com uma ajudinha do acaso, perdeu a inscrição do vestibular. Prestou Jornalismo, passou em primeiro lugar, mas ouviu as recomendações da mãe:

– Ela pirou! Dizia que eu falava muito do que penso. E tinha medo porque um tio ficou três dias desaparecido na ditadura.

Decidiu, então, que seria médico.

Para conseguir a vaga, morou sozinho e estudou – muito! – por três anos.

Teve a ajuda de um amigo do avô para se manter no cursinho.

– Ele me dava um salário mínimo. Depois, quando me formei, ia no me consultório em São João del-Rei e dizia ter muito orgulho de mim.

Passou na Universidade Federal de Juiz de Fora em 1990 e diz que, durante o curso, manteve o mérito de antes:

– Eu sou de traçar objetivos. E sempre fui muito aplicado.

Durante o curso, conta que participou da criação do primeiro grupo de apoio a pacientes com aids da universidade.

– Era uma fase muito difícil. Perdemos muitos amigos com aids. A criação do grupo foi gratificante.

A Medicina humana se fortaleceu na dor pessoal, entretanto.

Avó, mãe e pai tiveram câncer. Ele cuidou de perto de cada um.

– Foi o que me mudou na relação com o paciente. Acompanhar o morrer foi outra linha de crescimento. Acho que tudo acontece no tempo certo. Abri o olhar.

Marco Andrey chegou ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto como visitante, por convite de um amigo, em 1999.

Em 2000, prestou a prova do Doutorado e entrou. Durante um ano, viajava de São João del-Rei (MG) para Ribeirão Preto semanalmente: 500 quilômetros de estrada.

Em 2001, decidiu que as viagens iriam parar e fincou as raízes em Ribeirão.

Em 2004, aceitou o convite antigo da professora, se encantou com a pesquisa na área de hanseníase e conseguiu vaga como professor docente da USP. Uniu a esse tema os estudos sobre cicatrização que já conduzia.

E tem colhido frutos.

– Nós estamos conseguindo criar um meio de cultivo para a bactéria da hanseníase, com um modelo de pele humana. Não existe um modelo de cultivo no mundo todo.0,

Marco Andrey tem pressa. Pressa de descobrir, de cuidar.

É do tipo que prefere ir de escada a esperar o elevador – como pude presenciar.

A lista de projetos em andamento soma linhas e linhas. Assim como a de projetos que ainda quer desenvolver.

– Se eu me sinto realizado? Não! Claro que não! Tem muitas coisas para construir!  O objetivo principal é continuar informando, ajudando a abrir o olhar para a doença que coloca o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de infecções.

De acordo com os dados oficiais, o Brasil tem índice de 14 casos para cada 100 mil habitantes com hanseníase. A Organização Mundial de Saúde considera que há controle da doença com índices de 10 casos para cada 100 mil habitantes.

Descobrir as respostas continua sendo o que move a Medicina que tem dentro de si.

– Tenho muito que ajudar para fazer um mundo diferente. Não um mundo reto, porque fica muito chato. É melhor um mundo de curvas.

Na bagagem, leva vontade de ver acontecer. Espalhando Brasil afora um pouco do que acredita.

 Quer mais informações sobre a hanseníase? 

Leia a cartilha da campanha #todoscontraahanseníase:

https://issuu.com/textoecia/docs/cartilha_14_8cm_x_21cm_-_4_paginas

Acesse também os sites oficiais:

Ministério da Saúde: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/oministerio/principal/secretarias/svs/hanseniase

Sociedade Brasileira de Hansenologia: http://www.sbhansenologia.org.br/

Referência: http://historiadodia.com.br/marco-andrey-leva-informacoes-sobre-a-hanseniase-brasil-afora/