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RNAs não-codificadores longos estão envolvidos em múltiplas vias imunológicas em resposta à vacinação

As vacinas estão entre as maiores realizações da medicina: reduziram significativamente a mortalidade e as complicações causadas por várias doenças infecciosas, como meningite, hepatite, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, coqueluche, tétano, gripe, febre amarela, etc.  Além disso, é muito mais barato e fácil prevenir uma doença do que tratá-la.

Entretanto, nossa compreensão sobre como nosso corpo reage às vacinas, ou seja, os mecanismos moleculares envolvidos na proteção imunológica promovida pelas vacinas, ainda permanece incompleta.

Tanto o emergente campo de Biologia de Sistemas (campo da biologia que analisa o comportamento e interação entre os componentes de um sistema biológico, de maneira integrada, frente a diferentes perturbações) como o uso de ferramentas computacionais associadas à Biologia de Sistemas, permitem a geração de informações detalhadas sobre a resposta imunológica do organismo após a vacinação. Estas informações fornecem, por sua vez, novas ideias e ferramentas para testar e desenvolver novas vacinas.

O genoma humano pode transcrever mais de 100.000 tipos de RNAs não codificadores, ou seja, sequências de RNA com mais de 200 nucleotídeos sem potencial de codificação detectável. Apesar de não produzirem proteínas, RNAs longos não-codificáveis (lncRNA) atuam na regulação da expressão gênica, seja na fita de DNA a partir da qual foram transcritos, seja na fita oposta, e estão envolvidos com diversos mecanismos que regulam a expressão dos genes.

Estudos anteriores demonstraram que os lncRNAs estão envolvidos em múltiplos processos biológicos, mas seu papel na imunidade induzida por vacinas foi até agora pouco explorado, pois a maioria das pesquisas em Vacinologia de Sistemas têm se concentrado apenas na análise de expressão de genes codificadores de proteínas.

O grupo do pesquisador do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias – CRID, Dr. Helder Nakaya, realizou uma análise massiva do transcriptoma de 2.059 amostras de sangue de 17 coortes de participantes vacinados contra a febre amarela ou gripe. A análise identificou centenas de lncRNAs potencialmente envolvidos com as respostas imunes provocadas por estas vacinas. Especificamente, os pesquisadores observaram que a expressão dos lncRNAs se altera após a vacinação e que essas alterações estão correlacionadas à produção de anticorpos. Os resultados também sugerem que os lncRNAs relacionados às vacinas podem atuar em vias imunológicas distintas.

Por fim, utilizando a técnica de sequenciamento genético (RNA-seq) para identificar lncRNAs que foram induzidos ou reprimidos após a vacinação – neste caso com vacina contra a gripe / influenza – os pesquisadores criaram um banco de dados online onde os usuários podem consultar os resultados das meta-análises, visualizando os lncRNAs. “Esperamos que este recurso abrangente possa auxiliar os demais pesquisadores na avaliação rápida de hipóteses relacionadas ao transcriptoma do sangue de vacinas humanas” diz Nakaya.

A publicação completa pode ser acessada aqui.

RNAs longos não-codificáveis (lncRNA) = moléculas de RNA que não são traduzidas em proteínas.

Transcriptoma = conjunto completo de transcritos – RNAs mensageiros, RNAs ribossômicos, RNAs transportadores, microRNAs e lncRNAs – de um dado organismo, órgão, tecido ou linhagem celular.

Referência: CRID – Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias