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Um estudo da EERP aponta que a busca pela cura do câncer na infância e adolescência deixa risco de infertilidade em segundo plano

Uma pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP identificou que os sobreviventes do câncer na infância e na adolescência convivem com a incerteza se poderão ou não ter filhos.

De acordo com a pesquisa da enfermeira Fabrine Aguilar Jardim, no momento do diagnóstico de câncer, os profissionais de saúde devem deixar claro para os pais dos pacientes os possíveis problemas futuros que os tratamentos como quimioterapia, radioterapia e cirurgia podem causar. A possibilidade de ser infértil acontece nos sobreviventes ao câncer pois esses tratamentos podem afetar os órgãos reprodutivos.

 

O momento de comunicar sobre essa possível incapacidade reprodutiva é muito marcante e delicado, porém necessário. Quando a doença acomete crianças e adolescentes, a notícia é dada aos pais, que ficam encarregados de, posteriormente, avisar os filhos sobre a possível condição. A pesquisadora conta que há um questionamento ético sobre o momento ideal para falar sobre saúde reprodutiva, e que a pouca idade no momento do diagnóstico pode representar um impedimento para o repasse de informações referente a possível incapacidade reprodutiva. Afirma ainda que, por ser um assunto tão importante, deve ser tratado em momento apropriado, ou seja, assim que a idade e a razão dos pacientes permitam, sendo recomendado que os profissionais de saúde o abordem com pacientes em idade reprodutiva.

Porém, muitas vezes, esses jovens desconhecem a sua capacidade reprodutiva e a notícia sobre a possibilidade de infertilidade é realizado em momento tardio, conforme constatações da pesquisadora. Isso ocorre devido a vários aspectos, como limitações da idade, postergação da informação pelos pais, priorização da sobrevivência e cura e, ainda, por ser considerado um tema delicado.

“Uma comunicação efetiva sobre o impacto do câncer na saúde reprodutiva deve ser compreendida como uma ação necessária diante do diagnóstico. Para tanto, as informações devem ser claras e transmitidas em momento apropriado, considerando que tal ação poderá contribuir para diminuir as lacunas no conhecimento referente à condição reprodutiva.”

O estudo foi feito por meio de questionário individual com 24 jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que sobreviveram ao câncer na infância e adolescência, e que estão em acompanhamento no Ambulatório de Onco Hematologia Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.

Outras descobertas

A pesquisadora também observou que os participantes do estudo manifestaram preocupações com a saúde dos futuros filhos biológicos e receio que os mesmos também tivessem câncer, recordando o sofrimento enfrentado pelos pais.

Outro fato que chamou a atenção de Fabrine é que a possível comunicação da incapacidade reprodutiva em uma relação amorosa foi associada ao medo, especificamente pelas mulheres que temiam ser abandonadas após divulgar o estado de fertilidade ao seu companheiro.

Segundo a enfermeira, a realização pessoal por meio da maternidade ou paternidade, mesmo que fique em segundo plano por conta da urgência da doença, ainda permanece no horizonte de aspirações dos pacientes, sendo motivo de preocupações com a vida afetiva e familiar e também com a autorrealização pessoal.

O estudo

A pesquisadora alerta que, para os sobreviventes de câncer na infância e na adolescência não precisem viver com o medo de serem inférteis, algumas medidas devam ser tomadas, iniciando com a comunicação franca e efetiva. Outro método que pode ser utilizado é o congelamento de esperma ou óvulos no momento do diagnóstico de câncer, segundo pesquisas internacionais. No Brasil, esses métodos ainda são pouco utilizados, contando com poucos centros especializados para tal. A enfermeira conta, ainda, que no caso das mulheres, existe um exame que pode ser feito após a cura do câncer, para checar a dosagem de hormônios presentes no organismo, onde essa quantidade vai apontar ou não a esterilidade.

Fabrine ressalta que os resultados do estudo podem auxiliar na busca de melhorias nos cuidados em saúde para essa população e que atendam a suas reais necessidades, uma vez que eles demandam acompanhamento por toda a vida, fazendo exames anuais, para que seja mantida a qualidade de vida.

A dissertação “Preocupações e incertezas de sobreviventes ao câncer na infância e na adolescência relativas à fertilidade” foi defendida na EERP em fevereiro deste ano e orientada pela professora Regina Aparecida Garcia de Lima.

Mais informações: fabrinedtna@hotmail.com

Referência: Portal de Informações da USP Ribeirão Preto – Por: Stella Arengheri.