Em Ribeirão Preto, USP transformou fazenda de café em área verde
Entre 1870 e 1940, o espaço onde hoje está instalada a USP em Ribeirão Preto abrigou uma fazenda de café chamada Monte Alegre – o primeiro local da cidade a receber luz elétrica. Em 1940, a região foi desapropriada pelo governo do Estado para a construção da Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas, mas alguns anos depois, em 1952, o terreno e o prédio passariam a ser propriedade da Universidade. O objetivo era a instalação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), a primeira unidade do novo campus.
Dessa época até 1986, grande parte da Mata Atlântica do entorno do campus foi derrubada e arrendada para o plantio da cana-de-açúcar. Em 1981, o professor José Eduardo Dutra instalou a Coordenadoria e Conselho do Campus em Ribeirão Preto e, entre as medidas tomadas para melhoria das áreas verdes, estava a elaboração do primeiro projeto de reflorestamento do campus pelo Fundo de Construção da USP.
A ideia era reconstituir a floresta que ocupava originalmente a região antes da plantação dos pés de café. A partir de então, novas medidas foram sendo adotadas, como a formação de uma brigada de incêndio florestal, a colocação de cercas nas áreas limítrofes e limpeza em volta das árvores.
Em 1997, o projeto foi reformulado com a criação de uma Comissão de Reflorestamento e a implantação foi dividida em duas etapas. A primeira delas, iniciada no ano seguinte, abrangeu uma área de 30 mil metros quadrados, onde foram plantadas 116 mil árvores de 70 espécies nativas das bacias do Rio Pardo e do Rio Mogi-Guaçu – ela foi denominada Área de Recomposição.
A segunda etapa foi implantada entre 2000 e 2004 e incluiu a fundação do chamado Banco Genético, que ocupa 45 hectares. Nessa área, mais 90 mil mudas de 45 diferentes espécies foram plantadas, provenientes de mais de 3,3 mil árvores-mãe (25 para cada espécie em três repetições), cujas sementes foram coletadas em mais de 400 fragmentos remanescentes de mata nativa das duas bacias.
Toda a área de reflorestamento ficou conhecida como a Floresta da USP em Ribeirão Preto. O projeto é considerado pioneiro com implantação aliada a conceitos de sucessão ecológica, plantio matematicamente planejado e a formação de um banco genético que representa uma fonte de sementes de alta qualidade genética para a propagação para outras áreas degradadas da região.
Localizada na região noroeste do campus, atrás do Departamento de Biologia e das Sessões de Parques e Jardins e de Transporte – tendo como ponto de referência o acesso pela Avenida do Café, a floresta estende-se próximo às dependências do Hospital das Clínicas e faz divisa com o bairro Jardim Paiva, ocupando uma área de 75 hectares.
O uso do local para diversos estudos e pesquisas científicas foi viabilizado por meio do CEEFLOR, o Centro de Estudos e Extensão da Floresta da USP. Durante muitos anos, a professora Elenice Mouro Varanda, aposentada, foi coordenadora do CEEFLORUSP. Atualmente, o cargo é do professor Tomas Ferreira Domingues.
A Floresta da USP teve ainda uma grande contribuição para um aumento de 20% da cobertura vegetal da área urbana do município de Ribeirão Preto e para o retorno da fauna nativa. Também é notável o aumento da vazão das minas existentes no campus e o surgimento de uma nova nascente d´água. Espécies nativas bastante populares como ipê-branco, ipê-amarelo, jequitibá-rosa, quaresmeira, paineira, jacarandá, jenipapo e embaúba, já produzindo flores e frutos, podem ser vistas no campus.
No total, a USP em Ribeirão Preto possui 168,95 hectares (1,6 milhão de metros quadrados) de reservas ecológicas, segundo número da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, o que corresponde a 28,82% da área total do campus.
O Banco Genético in vivo
O Banco Genético da Floresta da USP é dividido em três módulos e apresenta uma grande variabilidade dentro das 45 espécies de árvores que ocupam o local. O professor Domingues, coordenador do CEEFLOR da USP, explica que a diversidade genética é importante para aumentar a capacidade das espécies de sobreviver diante de distúrbios que ocorrem na natureza, como o ataques de pragas ou eventos extremos, a exemplo de períodos de seca ou geadas.
A área já passou por dificuldades, por conta de alguns incêndios que atingiram o local.
Nesse tipo de mata, incêndios são pouco usuais, por isso, eles foram muito danosos. Poucas espécies possuíram a capacidade de se recuperar após o caso e houve uma mortalidade bastante acentuada em algumas áreas do Banco Genético. O nosso trabalho, agora, é fazer justamente o levantamento das espécies e das áreas que foram afetadas, para construir uma estratégia de recomposição e o enriquecimento desse banco genético.
Tomas Ferreira Domingues, coordenador do CEEFLOR da USP
Hoje, há um monitoramento das áreas, com câmeras instaladas em torres. Elas tornam possível à Guarda Universitária acompanhar, em tempo real, tudo que acontece na mata. Caso seja detectado algum sinal de fumaça, ações são tomadas imediatamente para impedir o alastramento do fogo.
O professor também explicou que há um grande interesse dos alunos em explorar o banco. Eles desenvolvem trabalhos sobre a área da floresta, envolvendo pesquisas com árvores, insetos, entre outros, contemplando características biológicas das espécies, como também as comunidades de mamíferos e aves.
As pesquisas com abelhas
Um ponto interessante na fauna do campus em Ribeirão Preto são as diversas pesquisas sobre abelhas. Elas começaram em 1964, quando os professores Warwick Estevam Kerr e Ronaldo Zucchi, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, foram trabalhar na USP. O primeiro docente já estudava a genética de abelhas e o segundo pesquisava o comportamento delas. Assim, foi criado um grupo de pesquisadores no campus para explorar os mais diversos conceitos envolvendo esses insetos.
O grupo foi crescendo com o tempo e, em 1971, com a abertura dos programas de pós-graduação na Faculdade de Medicina, alguns pesquisadores de renome internacional de universidades como a de Hokkaido, no Japão, e de Buenos Aires, na Argentina, foram convidados para ministrar disciplinas e orientar pós-graduandos.
O número de alunos pesquisando abelhas aumentou ainda mais com o início do Programa de Pós-Graduação em Entomologia no Departamento de Biologia da Universidade, em 1980. Atualmente, o campus é mundialmente reconhecido por suas pesquisas com abelhas africanizadas e possui a maior coleção de abelhas sociais sem ferrão (Meliponini) do mundo, além de desenvolver atividades como o Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, principal evento científico sobre pesquisas com abelhas no Brasil.
Referência: Jornal da USP – Foto de capa: Silvio Tucci Júnior