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Brasil terá ‘laboratório portátil’ com diagnóstico imediato de dengue, zika, chikungunya e febre amarela

Projetada para ser desenvolvida em até 2 anos em Ribeirão Preto, tecnologia ‘lab on a chip’ vai reconhecer doença enquanto paciente é atendido. Sistema pode ser levado a lugares remotos e ser expandido para evitar mortes por infecções em UTIs.

Mosquito Aedes aegypti é o tranmissor da zika, dengue e chikungunya (Foto: AP Photo/LM Otero, File)

Em dois anos, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esperam levar ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma tecnologia portátil para realizar diagnósticos imediatos de dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus em um aparelho do tamanho de uma caixa de sapatos.

Projetado para ser desenvolvido e produzido no campus da USP, em Ribeirão Preto (SP), o sistema ‘lab-on-a-chip’ [laboratório em um chip] permitirá que um paciente saiba com qual dos quatro arbovírus está enquanto é atendido na unidade de saúde.

A Fiocruz já conta hoje com outros testes simultâneos das doenças, mas, segundo os pesquisadores, nenhum deles é tão rápido ou utiliza princípios de microfluídica, engenharia que modifica o comportamento dos fluídos em análise quando dispostos em espaços reduzidos. 

“Existem no mundo vários dispositivos que estão sendo utilizados, mas o nosso vai ser inédito nesse contexto de já ser direcionado para multidiagnóstico diferencial. Você vai ter no mesmo dispositivo a possibilidade de diferenciar várias condições clínicas com sintomas semelhantes e agentes patológicos bem distintos”, afirma o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger. 

Com sintomas parecidos como dor de cabeça e febre, as doenças impõem desafios às autoridades brasileiras. Desde julho do ano passado até fevereiro deste ano, o país contabilizou 154 mortes de febre amarela e 545 casos confirmados.

Com 316 mortes em 2016, dengue, chikungunya e zika tiveram redução nos números, mas o Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) apontou 1,1 mil municípios brasileiros ainda em ‘estado de alerta’. 

Laboratório portátil 

O equipamento portátil contará com um microchip que realiza as principais etapas desenvolvidas por aparelhos maiores de um laboratório convencional, como a preparação da amostra e a identificação da substância, mas em uma escala até 20 vezes menor.

O material genético do paciente – que pode ser urina, sangue e saliva, por exemplo – é preparado, processado e lido em menos de uma hora. Centros urbanos sem estrutura para os testes e ambulatórios são locais em potencial para sua implementação. 

“O que a gente está buscando é miniaturizar as condições para que os exames mais sofisticados realizados em laboratórios possam ser feitos num ambiente onde a gente não tem instalações laboratoriais muito boas. Pode ser feito tanto em condições próximas do leito do paciente quanto em regiões remotas que não tem laboratórios”, explica Krieger. 

O desenvolvimento e a validação do sistema serão concluídos dentro de um laboratório no Supera Parque, centro de inovação tecnológica instalado na USP, onde também deverá ser construída uma planta industrial para a fabricação das peças.

O projeto tem investimento inicial estimado em R$ 30 milhões, com verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e Governo de São Paulo.

Supera Parque concentra empresas de inovação em Ribeirão Preto, SP (Foto: Rodrigo Ramos / Roverpix)

Supera Parque concentra empresas de inovação em Ribeirão Preto, SP (Foto: Rodrigo Ramos / Roverpix)

Em um primeiro momento, o know how da Fiocruz será direcionado aos exames de dengue, zika, chikungunya e febre amarela, mas tende a ser expandido para outras patologias.

Uma das mais importantes, segundo o vice-presidente de inovação da fundação, é a possibilidade de diagnosticar sepses, infecções generalizadas com uma incidência de 30% nos pacientes de unidades de terapia intensiva (UTIs) e índice de mortes de até 60%, estima Krieger. Atualmente, os diagnósticos demoram até 24 horas.

“Se a gente consegue identificar nas primeiras duas horas qual é o agente causador da infecção e entrar com tratamento específico, a gente pode salvar 80% das vidas. Realmente não é só o luxo querer ter um teste no ponto de atendimento. Em algumas situações clínicas faz uma diferença muito grande você ter o diagnóstico. No caso da sepse, se estima que a cada hora que não tem o tratamento específico, você diminui em 10% a chance de salvar aquele paciente.”

A iniciativa é um dos braços da parceria entre a Fiocruz e a USP de Ribeirão Preto, que também consiste no desenvolvimento de pesquisas em conjunto com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMRP).

Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (Foto: Peter Illiciev/Fiocruz)

Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (Foto: Peter Illiciev/Fiocruz)

Referência:  G1 Ribeirão e Franca – Por: Rodolfo Tiengo – Foto de capa: AP Photo/LM Otero, File

https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/brasil-tera-laboratorio-portatil-com-diagnostico-imediato-de-dengue-zika-chikungunya-e-febre-amarela-diz-fiocruz.ghtml